Daniel Vaz Smith (bacharel em psicologia, mestrando em psicologia social e institucional)
A universidade pública foi e está sendo construída pelo sangue e suor de todos os brasileiros. Apesar de todos terem o mesmo direito de entrar na universidade, criaram-se mecanismos para filtrar a entrada de certas parcelas da população "menos privilegiadas". Uma população cuja pele sofreu o chicote da escravidão e sofre hoje pela exclusão, cujos olhos e ouvidos foram testemunhas do escárnio e hoje testemunham o escárnio e a hipocrisia, cujas bocas foram amordaçadas pelo discurso da “cordialidade brasileira” que depois se transformou no discurso da "democracia racial". E, ainda querem que fiquem assim amordaçadas dizendo que não exista um tal "preconceito racial" no Brasil, que a ciência genética comprovou por X e Y que Brasil é a população com menos diferenças raciais do mundo. Bom, pode ser que nossas células entre si se entendam. Mas, cá para nós, quando a coisa chega ao nível sistêmico macro corporal inserida numa cultura a coisa muda de figura completamente!! Então aquelas semelhanças a nível celular se tornam em diferenças escancaradas e até reforçadas por práticas e discursos sociais às vezes sutis e às vezes violentos. Como nossa atuação sobre a vida em sociedade está limitado à realidade dos corpos inseridos na cultura, então este conhecimento sobre a genética brasileira não ajuda em nada para ajudar a resolver as disparidades da circulação dos corpos de todos as etnias brasileiras nos diversos segmentos da nossa sociedade.O maior problema em tudo isto é a questão do medo. Há um medo de que as instituições de ensino superior do Brasil vão entrar em crise e perder seu valor e não sei mais o que de tão negativo que as cotas raciais vão provocar, muito mais que toda a corrupção (realizada aliás por brancos) jamais poderia fazer de ruim para o Brasil. Parece que vai ser o fim do mundo para o ensino superior do Brasil. Isto deve ser uma piada de mau gosto. Ora, é mais do que comprovada que onde há integração de culturas e conhecimentos de pessoas de diversas origens há crescimento mútuo entre todos, ninguém perde. E esta integração, também, não está pré-condicionada a uma equivalência de grau de instrução. O crescimento intelectual não ocorre por causa de uma equivalência de notas mas na capacidade de dialogar e trocar experiências, avaliando os dados e elaborando novas propostas a partir das conclusões. E tudo isto sob a ótica de seus pares. Democracia é saber dialogar. A universidade não precisa dialogar sobre a necessidade ou não sobre as cotas, é a única forma de remediar um século de exclusão. O desafio para a maioria (branca) dos que estão na universidade é saber dialogar com seus novos colegas de pele mais escura cujas origens são bem diferentes daquelas dos seus antepassados. Como disse Nietzsche (mais ou menos) o que não me mata me deixa mais forte. As cotas não vão matar o ensino superior do Brasil nem deixa-lo capenga, muito menos, de modo algum, prejudicado. Ou seja, somente quando se vai ao encontro àquilo de que se tem medo é que poderá realmente encontrar a si mesmo e o outro, valorizando-se mutuamente. Neste sentido, acredito que Brasil poderá estar num caminho de uma verdadeira re-descoberta de si mesmo. E isto é o que pode dar medo... o novo Brasil, pois algo no velho Brasil terá que morrer (transformar-se, deixar de ser, muita coisa terá que mudar e muitas vidas mudarão...), e é por isto que muitas pessoas preferem que as coisas continuem como estão. E aí é que mora o verdadeiro problema, a depressão, a impotência, a inércia. Estes sim podem matar o Brasil mesmo.
A universidade pública foi e está sendo construída pelo sangue e suor de todos os brasileiros. Apesar de todos terem o mesmo direito de entrar na universidade, criaram-se mecanismos para filtrar a entrada de certas parcelas da população "menos privilegiadas". Uma população cuja pele sofreu o chicote da escravidão e sofre hoje pela exclusão, cujos olhos e ouvidos foram testemunhas do escárnio e hoje testemunham o escárnio e a hipocrisia, cujas bocas foram amordaçadas pelo discurso da “cordialidade brasileira” que depois se transformou no discurso da "democracia racial". E, ainda querem que fiquem assim amordaçadas dizendo que não exista um tal "preconceito racial" no Brasil, que a ciência genética comprovou por X e Y que Brasil é a população com menos diferenças raciais do mundo. Bom, pode ser que nossas células entre si se entendam. Mas, cá para nós, quando a coisa chega ao nível sistêmico macro corporal inserida numa cultura a coisa muda de figura completamente!! Então aquelas semelhanças a nível celular se tornam em diferenças escancaradas e até reforçadas por práticas e discursos sociais às vezes sutis e às vezes violentos. Como nossa atuação sobre a vida em sociedade está limitado à realidade dos corpos inseridos na cultura, então este conhecimento sobre a genética brasileira não ajuda em nada para ajudar a resolver as disparidades da circulação dos corpos de todos as etnias brasileiras nos diversos segmentos da nossa sociedade.O maior problema em tudo isto é a questão do medo. Há um medo de que as instituições de ensino superior do Brasil vão entrar em crise e perder seu valor e não sei mais o que de tão negativo que as cotas raciais vão provocar, muito mais que toda a corrupção (realizada aliás por brancos) jamais poderia fazer de ruim para o Brasil. Parece que vai ser o fim do mundo para o ensino superior do Brasil. Isto deve ser uma piada de mau gosto. Ora, é mais do que comprovada que onde há integração de culturas e conhecimentos de pessoas de diversas origens há crescimento mútuo entre todos, ninguém perde. E esta integração, também, não está pré-condicionada a uma equivalência de grau de instrução. O crescimento intelectual não ocorre por causa de uma equivalência de notas mas na capacidade de dialogar e trocar experiências, avaliando os dados e elaborando novas propostas a partir das conclusões. E tudo isto sob a ótica de seus pares. Democracia é saber dialogar. A universidade não precisa dialogar sobre a necessidade ou não sobre as cotas, é a única forma de remediar um século de exclusão. O desafio para a maioria (branca) dos que estão na universidade é saber dialogar com seus novos colegas de pele mais escura cujas origens são bem diferentes daquelas dos seus antepassados. Como disse Nietzsche (mais ou menos) o que não me mata me deixa mais forte. As cotas não vão matar o ensino superior do Brasil nem deixa-lo capenga, muito menos, de modo algum, prejudicado. Ou seja, somente quando se vai ao encontro àquilo de que se tem medo é que poderá realmente encontrar a si mesmo e o outro, valorizando-se mutuamente. Neste sentido, acredito que Brasil poderá estar num caminho de uma verdadeira re-descoberta de si mesmo. E isto é o que pode dar medo... o novo Brasil, pois algo no velho Brasil terá que morrer (transformar-se, deixar de ser, muita coisa terá que mudar e muitas vidas mudarão...), e é por isto que muitas pessoas preferem que as coisas continuem como estão. E aí é que mora o verdadeiro problema, a depressão, a impotência, a inércia. Estes sim podem matar o Brasil mesmo.
Um comentário:
vim por referência do Marden, e estamos tendo uma boa discussão sobre cotas nesses endereços:
http://olhodinamo.blogspot.com/2007/06/argumentos-pr-e-contra-cotas-raciais.html
http://catatau.blogsome.com/2007/06/15/raca-entre-o-argumento-biologico-e-o-socio-historico/
Esse título chamou a atenção precisamente pelo debate estar bem nesses dois termos: genética e cultura
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