Universidade Federal do Rio Grande do
Sul
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas Departamento de Antropologia
Disciplina: HUM05045– Leituras e Escritas Etnográficas, turma U
Semestre: 02/2012
Carga Horária: Teórica: 60 horas; Prática: 30 horas
Professora: Patrice Schuch (patrice.schuch@uol.com.br);
Assistentes
de Ensino: Lucas Besen (lucasbesen@yahoo.com.br)
e Alex Martins Moraes (alexmartinsmoraes@gmail.com)
Estagiário Docente de Mestrado: Tomás Sánchez Guzman (tomasguzmansanchez@gmail.com)
Objetivos:
A
disciplina visa desenvolver um espaço de problematização e de exercício do
fazer etnográfico, entendido como uma atividade inventiva que implica reflexões
sobre a epistemologia, método e condições variadas de produção de teorias e
dados em Antropologia. Dada a centralidade da etnografia no modo de produção da
Antropologia, o curso focaliza as experiências e os desafios da produção
etnográfica através da leitura de etnografias clássicas e contemporâneas,
focando-se na discussão de questões tais como: o texto e os estilos etnográficos;
a autoria e a autoridade antropológica; o trabalho de campo e a escrita
antropológica; a refuncionalização e ressignificação da etnografia em contextos
variados de produção. A disciplina parte do pressuposto da importância da
reversibilidade da etnografia para a formação de conhecimento em antropologia e
entende relacionalmente o processo de pesquisa e a produção de teorias e dados
antropológicos. Nesse sentido, a disciplina objetiva também exercitar de forma
contínua a produção e a experimentação de/com artefatos antropológicos
variados, tais como a descrição etnográfica em seus variados estilos, focos e
contextos; o diário de campo; os documentários etnográficos, fotos e
instalações; a produção de monografias; etc.
Tópicos
Programáticos:
1) Antropologia e Etnografia: como produzir teorias em ação? 2) Etnografias Contemporâneas: experimentações, tensões e redimensionamentos;
3) Experiências, Dilemas e Desafios do Fazer Antropológico
Sistemática das Aulas: Para
carga horária teórica: aulas expositivas dialogadas, seminários com
apresentação e discussão de textos, crítica textual, debate do conteúdo da
disciplina a partir de documentários; reflexões orientadas por interrogações
sobre o texto; Para a carga horária prática: observações e descrições
etnográficas; crítica textual; produção de textos com diferentes estilos
narrativos; produção de diário de campo; entrevistas e outros artefatos da
produção antropológica.
Avaliação: Os alunos receberão
conceitos A (ótimo), B (muito bom), C (regular), D (insuficiente) ou FF (falta de frequência), de acordo com seu
desempenho em cada uma das seguintes atividades:
1)
Participação em aula e apresentação de seminários sobre os textos do programa
de ensino (30%);
2)
Entrega dos exercícios solicitados ao longo do semestre (40%);
3)
Entrega do trabalho final (30%).
Durante
o semestre deverá será elaborado, individualmente, pelo aluno, um portfólio,
que conterá seus trabalhos desenvolvidos ao longo da disciplina. O portfólio
deverá conter a auto-avaliação do aluno em relação à atividade desenvolvida,
assim como a da professora e estagiários docentes. Ele deve ser entregue junto
com o trabalho final da disciplina (11/01/2013)
1. Apresentação
da disciplina (31/08)
Apoio:
DELEUZE, Gilles (1990). “Carta a um Crítico
Severo”. In: Conversações. SP. Ed.
34, 2007, p. 11-22.
DELEUZE, Gilles (1993). “A Literatura e a Vida”. In: Crítica e Clínica. SP, Editora 34, 1997, p.11-16.
BLOCO I: Antropologia e Etnografia: como produzir
teorias em ação?
ATENÇÃO: A aula será no seminário: “Ensaios, Críticas e Leituras Antropológicas
sobre Neoliberalismo: perspectivas no sistema mundo”. Local: Pantheon, a partir
das 14:00h.
Sugere-se a participação integral no seminário, especialmente na
conferência do prof. Eduardo Restrepo:”Geopolíticas del conocimiento y antropología
en tiempos de globalización”, (13/09, às 9:00 h, Pantheon);
Apoio:
LINS RIBEIRO, Gustavo. “Antropologias Mundiais. Para um Novo Cenário
Global para a Antropologia”. In: Revista
Brasileira de Ciências Sociais. Vol. 21, n. 60, fevereiro de 2006, p.147-185.
RESTREPO, Eduardo y Arturo ESCOBAR. “Antropologías en el mundo”. In: Jangwa Pana 3, Santa Marta, Programa de Antropología
/Universidad del Magdalena, 2004, p. 110-131.
3. O Clássico dos
Clássicos: Malinowski e a construção do etnógrafo como “herói” (21/09)
MALINOWSKI, Bronislaw. (1922). “Prólogo”,
“Introdução”. In: Os Argonautas do
Pacífico Ocidental. São Paulo, Coleção os Pensadores, Ed. Victor Civita,
1984, (p. 1-8 e 14-34).
MALINOWSKI, Bronislaw. (1926) Crime e Costume na Sociedade Selvagem. Brasília,
Editora da UNB, 2003 (Parte I), 1-56.
CLIFFORD, James. “Sobre a automodelagem etnográfica: Conrad e Malinowski”. In: A Experiência Etnográfica: antropologia e literatura no século XX. Rio de Janeiro, Editora da UFRJ, 1998, p. 100-131.
CONRAD, Joseph (1902). Coração das Trevas. SP,
Companhia das Letras, 2008
|
4. O Surrealismo Etnográfico e as Etnografias Surrealistas (28/09)
CLIFFORD, James. “Sobre o Surrealismo
Etnográfico”. In: A Experiência Etnográfica. Antropologia e Literatura no
Século XX. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 1999, p. 121-162.
Discussão dos experimentos surrealistas
trazidos pelos alunos.
5. As Etnografias
como “Ficções”: Clifford Geertz e a reconfiguração da escrita antropológica
(05/10)
GEERTZ, Clifford. “Um Jogo Absorvente:
Notas sobre a Briga de Galos Balinesa”. In: A Interpretação das Culturas.
Rio de Janeiro, Ed. Guanabara, 1989, p. 278-321.
Apoio:
GEERTZ, Clifford. “Mistura de gêneros: a
reconfiguração do pensamento social”. In: O
Saber Local. Petrópolis, Vozes, 1997, p. 33-56.
CALDEIRA, Teresa Pires do Rio. "A
presença do autor e a pós-modernidade em Antropologia". In: Novos Estudos do CEBRAP. n 21, julho
1988.
CALDEIRA, Teresa.
"Uma incursão pelo lado 'não respeitável' da pesquisa de campo". Ciências
Sociais Hoje, 1. Trabalho e cultura no Brasil. Recife, Brasília, CNPq
ANPOCS, 1981.
DAMO,
Arlei. “Cap. 10. Os Jogadores e seu Público”. In: Do Dom à Profissão. Tese de doutorado apresentada ao PPGAS/UFRGS.
POA. UFRGS, 2005 (mimeo).
MENEZES,
Rachel A. “Em Busca da Boa Morte”. In: Em
Busca da Boa Morte. Antropologia dos Cuidados Paliativos. RJ, Ed.FIOCRUZ/Garamond,
2004, p. 162-210.
2.1. Etnografias:
7. Etnografia,
Intersubjetividade e Experimentação (26/10)
SILVA, Hélio. Travesti. A
Invenção do Feminino. RJ, Relume Dumará, 1993.
|
8. O Pesquisador como Aprendiz: conhecimento “prático” e visceral (09/11)
WACQUANT,
Loïc. Corpo e alma: notas etnográficas de
um aprendiz de boxe. Rio de Janeiro, Relume- Dumará, 2002.
Debate sobre os
trechos escolhidos e comentados pelos alunos, das etnografias de Hélio Silva ou
Loïc Wacquant.
BEHAR, Ruth. “Prólogo: Víbora que Habla”.
In: Cuéntame Algo Aunque Sea una Mentira:
las Historias del la Comadre Esperanza. México, DF: Fondo de Cultura
Económica, 2009.
BIEHL, João. 2005. “A vida cotidiana das
palavras: a história de Catarina”. Cadernos
da APPOA. Porto Alegre, nº 140, 2005, p. 14-29.
BIEHL, João. “Antropologia do devir:
psicofármacos – abandono social – desejo”. In: Revista de Antropologia. Vol. 51, n. 2. SP, USP, 2008, p. 413-449.
GOODY, Jack. “Da
Oralidade à Escrita – reflexões antropológicas sobre o ato de narrar”. In: MORETTI,
Franco (org.). Romance 1: A cultura do romance. São Paulo, CosacNaify,
2009, p 35-68.
KUNDERA, Milan (1986). “Primeira Parte: a
herança depreciada de Cervantes”. In: A
Arte do Romance. SP, Companhia das Letras, 2009.
|
2.2. Artefatos Antropológicos:
BONETTI,
Aline e FLEISCHER, Soraya. “Diário de Campo: (sempre) um experimento
etnográfico-literário?”. In: BONETTI, Aline e FLEISCHER, Soraya (Orgs). Saias Justas e Jogos de Cintura. Ilha de
SC, Editora Mulheres/EDUNISC, 2007, p. 9-40.
VIEIRA,
Miriam S. “Diário de Campo numa Instituição de Justiça”. In: SCHUCH, Patrice;
VIEIRA, Miriam S.; PETERS, Roberta (Org.). Experiências, Dilemas e Desafios
do Fazer Etnográfico Contemporâneo. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2010,
p. 157-164.
Discussão dos trechos de diário de campo
elaborados pelos alunos.
Apoio: ECKERT,
Cornelia e ROCHA, Ana Luiza. Etnografia de rua e câmera na mão. Revista Eletrônica Studium.
http://www.studium.ar.unicamp.br/oito/2.htm?=
|
12. Filme Etnográfico (30/11)
“Jean Rouch, Subvertendo Fronteiras”. Direção: Ana Lúcia
Ferraz, Edgar Teodoro da Cunha, Paula
Morgado e Renato Sztutman. SP, Laboratório da Imagem e do Som em Antropologia/USP,
2000, 41 min.
“Les Meîtres Fous” (“Los Dirigentes
Locos”) – Direção: Jean Rouch. (legendas
em espanhol), Centro Nacional de
Pesquisa Científica e Instituto 1951, 35
min.
“O Cinema é como uma Dança - Entrevista
com Jean Arlau”. Direção: Rafael
Devos, Olavo Marques, Ana Luiza Rocha, Cornelia Eckert e Flávio Abreu. BIEV/PPGAS-UFRGS,
POA, 2004, 35 min.
“Passagens Urbanas”. Direção: Ana Luiza
Rocha de Carvalho e Olavo Marques. BIEV/PPGAS-UFRGS, POA, 2003, 25 min.
MENEZES, Paulo. Les Maîtres Fous, de Jean
Rouch: questões epistemológicas da relação entre cinema documental e produção
de conhecimento. Revista Brasileira de
Ciências Sociais. 2007, vol.22, n.63, pp. 81-91.
13. Antropologia
e seus Espelhos: problematizações (07/12)
EVANS-PRITCHARD, E. “Introdução”. In: Os Nuer. SP, Ed. Perspectiva, 2007, p. 5-21.
DA SILVA, Vagner Gonçalves et alli. A Antropologia e Seus Espelhos. SP. USP,
1994.
DA SILVA, Vagner Gonlçalves.”Política das
Citações: outras academias, outros escritos”, “Construindo Textos, Tecendo
Tradições”, “Etnografias Domésticas”, “Das Folhas ao Mel Proibido de Oxóssi”,
“Escudos e Fugas: na contramão da representação” e “O Antropólogo e sua Magia”.
In: O Antropólogo e sua Magia. SP,
Ed. da USP, 2000, 140-184.
GORDON, Cesar. “Prefácio: a bola dentro da
tora” e HIPARIDI TOP’TIRO. Auwê Xavante. “Uma Outra Apresentação: pesquisador e
pesquisado”. In: VIANNA, Fernando de Luiz Brito. Boleiros do Cerrado. Índios Xavantes e o Futebol. SP,
Annablume/FAPESP?ISA, 2008, p. 9-14 e 15-16.
SCHUCH, Patrice. “Antropologia com Grupos
Up, Ética e Pesquisa”. In: SCHUCH, Patrice; VIEIRA, Miriam S.; PETERS, Roberta
(Org.). Experiências, Dilemas e Desafios do Fazer Etnográfico Contemporâneo.
Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2010, p. 29-48.
Apoio:
EVANS-PRITCHARD, E. “Algumas Reminiscências
e Reflexões sobre o Trabalho de Campo”. In: Bruxaria,
Oráculos e Magia entre os Azande. RJ, Jorge Zahar Editor, 2006.
FONSECA, Claudia. “O Anonimato e o Texto
Etnográfico: dilemas éticos e políticos da etnografia ‘em casa’”. In: SCHUCH,
Patrice; VIEIRA, Miriam S.; PETERS, Roberta (Org.). Experiências, Dilemas e
Desafios do Fazer Etnográfico Contemporâneo. Porto Alegre: Editora da
UFRGS, 2010b, p. 205-226.
14. A
Etnografia em Colaboração: muito além da escrita (14/12) – Seminário de
Apresentação de Textos (5)
RAPPAPORT, Joanne - Más Allá de la
Escritura: la epistemología de la antropología en colaboración. In: Revista Colombiana de Antropología. Vol.
43. 2007, p. 197-229.
SOARES, Luis Eduardo; MV Bill e ATHAYDE,
Celso. Cabeça de Porco. Ed. Objetiva,
2005.
Apresentação de Alex Martins Moraes, Tomás
Guzman Sánchez e Lucas Besen sobre suas
pesquisas.
15. Entrega
e Apresentação dos Trabalhos Finais da Disciplina + Ética em Antropologia –
Prática Etnográfica e Políticas de Regulamentação (11/01/2013)
BEVILAQUA, Ciméa. “Ética e Planos de Regulamentação da Pesquisa: princípios gerais, procedimentos contextuais”. In: FLEISCHER, Soraya e SCHUCH, Patrice (Org.). Ética e Regulamentação na Pesquisa Antropológica. Brasília, Editora da UnB/Letras Livres, 2010, p.71-90.
DINIZ,
Débora. “A Pesquisa Social e os Comitês de Ética no Brasil”. In: FLEISCHER,
Soraya e SCHUCH, Patrice (Org.). Ética e Regulamentação na Pesquisa
Antropológica. Brasília, Editora da UnB/Letras Livres, 2010, p.183-192.
FONSECA,
Claudia. “Que ética? Que ciência? Que sociedade?”. In: FLEISCHER, Soraya e SCHUCH, Patrice (Orgs). Ética e
Regulamentação na Pesquisa Antropológica. Brasília, Letras Livres/Editora
da UnB, 2010a, p. 39-70.
PORTO, Dora. “Relato de uma Experiência
Concreta com a Perspectiva das Ciências da Saúde: construindo o anthropological
blues”. In: FLEISCHER, Soraya e SCHUCH, Patrice (Org.). Ética e
Regulamentação na Pesquisa Antropológica. Brasília, Editora da UnB/Letras
Livres, 2010, p. 101-126.
RAMOS, Alcida. “A Difícil Questão do
Consentimento Informado”. In: VICTORA, Ceres et alli (Org). Antropologia e
ética: o debate atual no Brasil. Niterói: EdUFF-ABA, 2004, p. 91-96.
ATENÇÃO: Nesta aula (11/01)
deverão ser entregues os trabalhos finais da disciplina, que serão apresentados
pelos seus autores; a apresentação deve incorporar a seguinte questão: quais os
desafios éticos suscitados a partir da elaboração do trabalho?
OPÇÃO
PARA REALIZAÇÃO DE TRABALHOS FINAIS:
Opção 1: Produção de
um artefato antropológico, utilizando-se dos recursos analíticos da disciplina,
bem como da livre inspiração para produção de “coisas novas” sobre temática de
interesse (em texto: máximo 5 páginas; produção fílmica: máximo 20 min.);
Opção
2: Análise crítica de uma etnografia brasileira
recente, a partir dos recursos analíticos discutidos na disciplina (máximo 5
páginas).
|
16. Dia 17/01/2013: Prova de recuperação:
Chega
mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível que lhe deres:
Trouxeste a chave?”
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível que lhe deres:
Trouxeste a chave?”
Carlos
Drummond de Andrade, Procura da Poesia
Nenhum comentário:
Postar um comentário